19/06/2009

UMA CARTA, SIMPLESMENTE...

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Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos (Heterónimo de Fernando Pessoa)


Lato sensu, a carta de um encarregado de educação agradecendo e elogiando o trabalho e a dedicação dos professores ao longo do ano, responsáveis pelos progressos evidentes do seu educando, pode ser considerada por nós professores, uma carta de amor. Com uma pequena diferença relativamente às do poema: não é ridícula. Ao contrário de outras, não propriamente cartas, que nos passaram pelas mãos nos últimos tempos.

Não oferecemos o peito às medalhas (às balas talvez), mas é gratificante verificar que ainda existe, de vez em quando, quem nos reconhece, não só de vista...

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